Sobre Meninos, Meninas e Vistos

Que o Brasil definitivamente entrou na rota de apresentações de artistas internacionais todos sabem. O mundo também já sabe onde fica o Rio de Janeiro, que a capital do Brasil não é Buenos Aires e que, por incrível surpresa dos gringos, aqui se fala português e não espanhol (ainda que eles nem imaginem de onde vem a língua portuguesa e pior, também não sabem ainda que o Brasil foi colonizado por Portugal, que por sua vez, fica na Europa).

A grande mídia noticia com freqüência que os brasileiros precisam de visto para entrar nos Estados Unidos, que o Brasil não participa do programa Visa Waiver americano (que descarta a necessidade de visto prévio) mas se esquece de várias outras questões, como por exemplo, que o mundo não se localiza somente em Miami ou Orlando e que vários outros países do mundo também exigem visto para ingresso.

O que não se discute, sabe-se lá o porquê, é porque os cidadãos de um país precisam de uma autorização – chamada de visto – que se consegue previamente à viagem para ingresso em um outro país.

Desta forma, vamos citar o exemplo norte-americano. Os brasileiros precisam de visto para ingressar em território estadiunidense e os norte-americanos precisam de visto para entrar no Brasil por questões que vão além do interesse diplomático. Aliás, se fosse somente pela questão diplomática, tanto o Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) quanto os EUA já se manifestaram no sentido de eliminar essa barreira.

Voltando ao ponto dos artistas internacionais que agora vêm ao Brasil em maior quantidade e frequência, uma das modas atuais são as festas com drag queens participantes do programa RuPaul’s Drag Race (disponível por aqui através da Netflix e a partir de agosto, pelo canal fechado Multishow). E mês que vem, a ganhadora da quinta edição, Sharon Needles, vem ao Brasil para uma série de apresentações em várias cidades e postou em suas redes sociais o transtorno que teve para se locomover ao consulado brasileiro mais próximo (ela mora em Pittsburgh, que nem é tão longe assim de Nova Iorque, onde tirou o visto) pagar USD500!!! e assim se habilitar para finalmente descer aos trópicos, onde na cabeça dela, deve ter só índio, floresta amazônica, mosquitos e um calor infernal (brincadeira....calma gente). 

Segundo ela ainda - "I can finally say ' IM COMING TO BRAZIL!! Jajajajaja.. And I can't fucking wait!" (Posso finalmente dizer: EU VOU PARA O BRASIL!! HAHAHAHAHAHA E mal posso esperar!" Que medo desse "mal posso esperar".

Essa é uma situação meio que familiar pra gente não é? Por que ela achou assim tão ruim? Ela mesma responde. Viaja o mundo inteiro sem necessidade de visto e se surpreendeu que num país chamado Brasil, ela precisou passar por tudo isso (só não mencionou que todas as despesas estão sendo custeadas pelos organizadores das festas).

E em relação à necessidade do visto? As Câmaras de Comércio de muitos países do mundo, principalmente América Latina e Caribe e seus respectivos ministérios de turismo acham que se os EUA e Brasil abolirem o visto, será o fim do fluxo de turistas brasileiros para outros destinos. Todos iremos para Miami, segundo eles. Ao pesquisar na nossa memória nem tão distante, no tempo da ditadura militar, havia a propaganda “BRASIL: AME-O OU DEIXE-O” e daí começaram as piadas de que não caberemos todos em MIAMI AME AME OU DEIXE-O.

Cabe a nós então refletir a respeito. Iremos todos mesmo para Miami, com a necessidade ou não de visto, ou nos daremos a chance de conhecer mais culturas, mais povos e mais lugares?